ATA DA TRIGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA
SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 25.10.1990.
Aos vinte e cinco dias do mês de outubro do ano de
mil novecentos e noventa reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha, a Câmara
Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Terceira Sessão Solene da Segunda
Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega dos
Títulos Honoríficos de Cidadão Emérito ao Sr. Alcides Macedo e ao Sr. Aldo
Sani; do Título Honorífico de Líder Comunitário a Oríbio Mingota dos Santos e
Prêmio Artístico "Lupicínio Rodrigues" a José Cláudio Leite Machado.
Às dezessete horas e nove minutos, constatada a existência de
"quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e
solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e
personalidades convidadas. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Luis Pilla Vares, Secretário Municipal da
Cultura, Sr. Alcides Macedo, Maestro Macedinho, Homenageado; Sr. Aldo Sani,
Homenageado; Sr. Oríbio Mingota dos Santos, Homenageado; Sr. José Cláudio Leite
Machado, Homenageado; Dr. Luís Carlos Coutinho Garcez, Prefeito Municipal de
Tapes/RS; Cap. PM Edison Estivalete Bilhalva, Patrão da Estância Crioula do
Clube Farrapos; Dr. Daniel Ioschpe, Vice-Presidente do Conselho de
Adminsitração da Companhia Ioschpe de Participações; e Ver. Ervino Besson,
Secretário "ad hoc" na ocasião. A seguir, o Senhor Presidente
convidou os presentes para, em pé, assistirem à execução, pela Banda Municipal
de Porto Alegre, do Hino Nacional. Após, fez pronunciamento alusivo ao evento,
salientando que, nesta tarde, estariam sendo homenageadas, por este Legislativo
Municipal, personalidades que muito têm realizado em prol da comunidade e da
cultura deste Município. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a
palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. José Valdir, como
autor da proposição que concede o Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr.
Alcides Macedo, discorrendo sobre a obra musical do Maestro Macedinho e sobre a
importância da sua atuação junto à Banda Municipal diante da questão cultural
da nossa Cidade, esclareceu que a referida homenagem partiu dos funcionários da
Secretaria Municipal da Cultura. Salientando que "a vida e a obra do
Maestro Macedinho simbolizam a união da qualidade com a simplicidade",
defendeu a democratização do acesso à cultura, trabalho que vem sendo realizado
pela Secretaria Municipal de Cultura. A seguir, nos termos da Resolução nº
1033, de vinte de dezembro do ano de mil novecentos e oitenta e nove, o Ver.
José Valdir procedeu à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao
Senhor Alcides Macedo. E, em prosseguimento, o Maestro Macedinho, em
agradecimento, juntamente com a Banda Municipal de Porto Alegre, executa um
número musical. Após, o Maestro Macedinho entrega ao Senhor Presidente a
"Sinfonia à Câmara Municipal de Porto Alegre" que, em prosseguimento,
é executada pela Banda Municipal de Porto Alegre, sob a regência do Maestro
Macedinho. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao ex-Vereador
Hermes Dutra, autor da proposição, quando no exercício da Vereança neste
Legislativo, que concede o Título Honorífico de Líder Comunitário ao Senhor
Oríbio Mingota dos Santos, o qual discorrendo sobre as lutas em prol da
comunidade da Restinga, empreendidas pelo Homenageado, asseverou tratar-se do
reconhecimento de um trabalho anônimo, feito com despreendimento e
simplicidade. Após, nos termos da Resolução nº 998, de treze de dezembro do ano
de mil novecentos e oitenta e oito, o ex-Ver. Hermes Dutra procedeu à entrega
do Título Honorífico de Líder Comunitário ao Sr. Oríbio Mingota dos Santos, o
qual, em continuidade, agradeceu a homenagem recebida e discorreu sobre as
lutas comunitárias. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra
ao Ver. Wilson Santos que, como autor da proposição que concede o Título
Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Aldo Sani, falou sobre a atividade do
industrial Aldo Sani junto à Riocell S.A., seu empenho em prol da comunidade
deste Estado e suas lutas em defesa da ecologia. Após, nos termos da Resolução
nº 1046, de vinte e cinco de junho do ano de mil novecentos e noventa, procedeu
à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Aldo Sani que, em
prosseguimento, agradeceu a homenagem recebida, asseverando que a honraria se
estende a todos os trabalhadores da Riocell. Ainda, em continuidade, o Senhor
Presidente concedeu a palavra ao Ver. Wilson Santos que, como autor da
proposição que concede o Prêmio Artístico "Lupicínio Rodrigues" ao
Senhor José Cláudio Leite Machado, citando trechos de obras de Lauro Rodrigues,
Aparício Silva Rillo, Jaime Caetano Braum, Plínio Salgado, discorreu sobre as
atividades do compositor, cantor, tradicionalista, "amante das lidas
campeiras" e muitas vezes premiado em Festivais da Música Nativa, José
Cláudio Machado. Falou da importância do trabalho do homenageado para a cultura
deste Estado e da justiça do reconhecimento de seu talento por este
Legislativo. A seguir, nos termos da Resolução nº 1022, de trinta de outubro do
ano de mil novecentos e oitenta e nove, o Ver. Wilson Santos procedeu à entrega
do Prêmio Artístico "Lupicínio Rodrigues" ao Sr. José Cláudio Leite
Machado. E, o Dr. Luís Carlos Coutinho Garcez, Prefeito Municipal de Tapes/RS,
procedeu, em nome daquela Cidade, à entrega de placa homenageativa ao Sr. José
Cláudio Leite Machado. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Sr. José
Cláudio Leite Machado que, após agradecer a honraria recebida, executou dois
números musicais. Às dezoito horas e quarenta e seis minutos, nada mais havendo
a tratar, o Senhor Presidente levantou os trabalhos da presente Sessão,
anunciando que os Homenageados receberiam os cumprimentos no Salão Nobre desta
Casa e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à
hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e
secretariados pelo Ver. Ervino Besson, como Secretário "ad hoc". Do
que eu, Ervino Besson, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada
a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores
Presidente e 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Estão abertos os trabalhos. Convidamos todos os presentes para ouvirem a execução do Hino Nacional.
(A Banda Municipal de Porto Alegre executa o Hino Nacional.)
O SR. PRESIDENTE: Nesta tarde, a Sessão Solene será destinada a homenagear personalidades que pelo seu esmero e seu trabalho se tornaram destaques em nossa Cidade. E ninguém melhor para homenagear cada homenageado do que o próprio Vereador proponente.
De imediato, nós convidamos o Ver. José Valdir, proponente da homenagem ao Sr. Alcides Macedo. O Sr. Alcides Macedo encontra-se acamado, então convidaremos o Sr. Luiz Pilla Vares para representá-lo.
Com a palavra o Ver. José Valdir.
O SR. JOSÉ VALDIR: Sr.
Presidente, Ver. Valdir Fraga, senhores homenageados, senhoras, senhores,
demais autoridades, colegas Vereadores, senhores músicos, especialmente os
músicos da Banda Municipal presentes aqui hoje, parentes e familiares dos
homenageados, funcionários da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre.
(Lê.)
“Nos
encontramos aqui hoje para entregar a várias pessoas o título de Cidadão
Emérito de Porto Alegre. Para nós, entretanto, sem desmerecer os demais
homenageados, coube a responsabilidade toda especial de homenagear o cidadão
Alcides Macedo, ou, como de todos é conhecido, Maestro Macedinho. Ao
homenagearmos o Maestro Macedinho e sua obra musical, queremos também estender
esta congratulação a todos os compositores da Banda Municipal de Porto Alegre.
Inicialmente,
por dever para com a verdade, temos que fazer um esclarecimento: a iniciativa
desta homenagem ao Maestro partiu dos próprios funcionários da Secretaria
Municipal de Cultura, nas pessoas de Carlos Branco, Coordenador de Música da
Secretaria de Cultura do Município, de Cláudio Nunes, responsável pela Banda
Municipal, e da companheira Margarete Moraes, Coordenadora de Artes Plásticas
da Secretaria Municipal de Cultura. Sentimo-nos extremamente felizes por termos
tido a oportunidade de encaminhar este Projeto na Câmara de Vereadores.
Por isto,
cidadão Alcides Macedo, por isto, Maestro Macedinho, o que fazemos hoje é algo
simples. Estamos aqui reunidos diante dos poderes constituídos do Município
oficializando aquilo que já foi visto e reconhecido por todos quantos tiveram o
prazer de acompanhar o Maestro e sua Banda.
Mas como fazer
esta justa homenagem sem tentar, ao menos, recapitular a vida do cidadão
Alcides Macedo? Natural de Cruz Alta, Macedinho nasceu em 1916. Já aos quatorze
anos, aprendia com seu pai – um profissional da música – os primeiros passos
nessa atividade.
Macedinho se
incorpora à Brigada Militar, onde com o talento de um autodidata desenvolve o
aprendizado de vários instrumentos musicais. Porém, não se contenta em somente
tocar e começa a produzir composições e arranjos próprios. Os anos vão servindo
como especialização, e o Soldado Alcides Macedo atinge – sempre tocando na
Banda – o posto de Primeiro-Sargento. Presta concurso para Maestro da Banda e o
resultado é óbvio: classifica-se em primeiro lugar. Porém, a Banda da Brigada
Militar já não era suficiente. A sede pela música levava Macedinho a trabalhar
como músico profissional em boates e clubes da Capital. Porto Alegre vivia a
época de ouro da vida noturna, repleta de conjuntos e orquestras, a época dos
grandes bailes, dos shows e dos programas musicais ao vivo nas rádios. Nas
décadas de 1930, 1940 e 1950, os porto-alegrenses dançavam prazerosamente ao som
dos conjuntos do já famoso Maestro Macedinho. A American’s Boate, a Golden
Boate, o Clube do Comércio, dentre outras casas noturnas, tiveram a felicidade
de presenciar noitadas inteiras comandadas pelo talento do nosso Maestro.
Achamos que
esta solenidade nos possibilita dizer algumas palavras sobre a questão da
cultura, de como a vemos, de como a sentimos. O Maestro Macedinho e a Banda
Municipal são, por assim dizer, expressões vivas e claras de algumas virtudes
que consideramos vitais ao tratar da questão cultural. Sabemos que falar sobre
cultura é se atrever em um terreno que, no mais das vezes, parece tema
destinado a especialistas, a autoridades, coisa que certamente não somos.
Porém, vamos nos atrever a dizer que achamos fundamental reconhecer o trabalho
de democratização do acesso à cultura que vem sendo realizado pela Secretaria
Municipal. Queremos com isto chegar ao que chamávamos atrevimento. Há algumas
visões sobre cultura que, simplificada e preconceituosamente, pressupõem uma
cultura erudita, letrada e, portanto, destinada a alguns poucos capazes de
entendê-la, e outra popular e, por conseqüência, inferior, rebaixada, medíocre
e desqualificada. Temos conosco a certeza que possibilitando o acesso massivo a
várias expressões culturais em todos os cantos de nossa Cidade, encontraremos
pessoas ávidas por cultura e saber e potencializaremos o surgimento de talentos
fantásticos. Achamos que aquilo que alimenta o espírito, que dá cor e emoção à
vida ainda não é acessível exatamente para aqueles que não podem consumir
cultura, comprar cultura.
Por isto,
nossa Banda Musical e seu Maestro são exemplos vivos de simplicidade, de beleza
e daquilo que sintetiza qualidade indiscutível, daquilo que emociona ao
interpretar ritmos variados, daquilo que faz sorrir os velhos e moços, homens e
mulheres de todas as idades.
O trabalho de
Macedinho e suas orquestras vira sucesso. Daí à presença em São Paulo e
Montevidéu foi somente uma questão de tempo.
No entanto,
para nossa alegria, esse porto-alegrense por opção haveria de nos satisfazer
ainda mais. Quando a Banda Municipal, criada em 1925, é refundada em 1976,
aparece uma figura magra, de baixa estatura e fantástico talento. A partir de
então, falar da história da Banda Municipal e seus componentes é falar também e
necessariamente do Maestro Macedinho.
Professor de
música, Macedinho tem colaborado na formação de inúmeros profissionais de nosso
Estado. Como arranjador, teve seu trabalho reconhecido em nível nacional com a
edição de músicas suas pela Funarte. Autor de músicas de diferentes gêneros,
como choro (‘Sax no parque’, ‘Marcos e seu trombone’), frevos (‘Natalício no
Frevo’ e ‘Frevo pro Juarez’), dobrados, valsas, maxixes e peças de
características eruditas, como fantasias e suítes. Compôs em homenagem aos amigos,
principalmente a seus companheiros da Banda Municipal. Para o seu Lola, uma das
legendas da Banda, que aos oitenta e três anos toca com a alegria de um jovem,
Macedinho compôs ‘A tuba do Lola’, um maxixe dos bons. Para o trombonista
Marcos, compôs ‘Marcos e seu trombone’, um choro que não fica devendo nada aos
grandes choros compostos por autores como Pixinguinha ou Jacob do Bandolim.
Para o baterista Natalício, fez ‘Natalício no Frevo’, um frevo que certamente o
Mestre Capiba assinaria.
Este, senhoras
e senhores, é o cidadão Alcides Macedo. Esta é uma modesta e limitada
recuperação de sessenta anos de talento dedicados à música.
Para nós,
homenagear o Maestro Macedinho significa também compreender que sua
simplicidade e modéstia o tornam ainda mais merecedor de nossa admiração. Nos
dias de hoje, onde as formas e as aparências muitas vezes são ocas, nos dias de
hoje, onde se supervaloriza o supérfluo em detrimento da qualidade do que
consumimos em termos de cultura, esta solenidade se torna ainda mais relevante.
Sua vida e sua obra, Maestro, simbolizam a união da qualidade com a
simplicidade. Significa que a cultura, que a música pode ser a um só tempo
linda e acessível a todos. Sua vida e seu comportamento pessoal são uma aula
para que aprendamos a buscar em nós e em nossas vidas aquilo que nos emociona.
Seu exemplo estimula uma procura musical da felicidade, da alegria e da
sensibilidade.
Por fim, esta
homenagem ao Maestro e sua banda, nossa banda, serve para corrigirmos em tempo
algo que vem acontecendo em nosso Estado e em nossa Cidade. Foi preciso que
Luís Carlos Prestes, uma das maiores figuras da história deste século, morresse
para que fosse homenageado à altura em nossa Cidade. Tristemente, mesmo depois
de morta, a maior intérprete já surgida em nossa MPB, aqui nascida, ainda não
recebeu a devida homenagem. Elis porto-alegrense Regina, mesmo ausente, ainda é
marcada pelo preconceito dos medíocres. Ainda não foi valorizada pelo trabalho
maravilhoso que realizou.
Por isto,
homenageá-lo em vida, Maestro, é desejar-lhe simplesmente muita saúde e muita
lucidez e felicidade. É pedir que continues dedicando o melhor de seus esforços
para melhorar ainda mais a nossa banda. E dizer-lhe, Cidadão Emérito Alcides
Macedo, que aqui estamos prontos para sermos emocionados com o seu talento por
muitos anos ainda.
Maestro, ou
melhor, Cidadão Emérito Macedinho, obrigado por nos possibilitar esta
homenagem. E com a simplicidade que o caracteriza, queremos predizer, dizendo
apenas parabéns e um grande abraço.” Muito obrigado.
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Convido o Ver. José Valdir a
fazer a entrega do título ao Maestro Alcides Macedo.
(O Ver. José
Valdir procede à entrega do título.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: O Maestro não quer falar. A
orquestra vai falar por ele. Convidamos para uma foto junto com o Ver. José
Valdir, o Secretário de Cultura Pilla Vares e o Maestro Alcides Macedo, em
frente à Banda. A Banda vai falar.
(A Banda
Musical de Porto Alegre executa uma música.)
O SR. PRESIDENTE: O Macedinho está passando às
nossas mãos a “Sinfonia à Câmara Municipal de Porto Alegre”. Então, agora é que
ele vai falar, comandando a Banda.
(A Banda
Musical de Porto Alegre executa a “Sinfonia à Câmara Municipal de Porto
Alegre”.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Esta foi a homenagem do Alcides
Macedo à Câmara Municipal. Muito obrigado.
Passamos à
próxima homenagem.
O nosso
próximo homenageado é o Sr. Oríbio Mingota dos Santos, que vai receber o título
honorífico de Líder Comunitário e será saudado pelo proponente do seu título, o
ex-Vereador Hermes Dutra, mas ainda, para nós, Vereador. V. Exª está com a
palavra.
O SR. HERMES DUTRA: Exmo
Sr. Ver. Valdir Fraga, Deputado eleito, Presidente da Câmara Municipal de Porto
Alegre; senhores homenageados, Alcides Macedo, Aldo Sani, Oríbio Mingota dos
Santos e José Cláudio Leite Machado, foi um grato encontro que tive aqui hoje,
apesar do tempo já estar nos branqueando o cerro, Dr. Daniel Ioschpe,
Vice-Presidente do Conselho de Administração da Cia. Ioschpe de Participações,
Srs. Vereadores, senhoras e senhores.
Não me sinto
como intruso aqui nesta tribuna, mas, na verdade, esta homenagem deveria ser
prestada há mais tempo. Lamentavelmente, esta Casa esteve envolvida com as
questões da nova Lei Orgânica e da nova Legislatura e ainda houve algumas
impossibilidades, visto que este título foi aprovado no fim da última
Legislatura e hoje vem a ser entregue. É um título pouco divulgado na nossa
Cidade, o título de Líder Comunitário. Foi outorgado por unanimidade nesta Casa
ao Sr. Oríbio Mingota dos Santos, lá da Restinga, morador distante do centro de
decisão política da Cidade, morador de uma área da Cidade, como muitas outras,
com imensos problemas.
E por que a
Casa resolveu homenagear o Sr. Oríbio Mingote dos Santos? Sabem os senhores que
a luta comunitária é dedicar o tempo para servir os outros e receber em troca
muitas vezes a ingratidão de muitos, é o ato de dedicarmos boa parte de nossa
vida a gastar tempo, sola de sapato e tomar muitas vezes “chás de banco” em
repartições públicas na defesa e no interesse que não é nosso. Sabem os
senhores que a luta comunitária, que envolve dias e dias muitas vezes de
amargas angústias e decepções, traz no fundo um grande fator de gratificação,
que é a certeza que tem aquele que trabalha de que está fazendo sua parte, está
dando a sua contribuição para que o seu bairro, a sua rua, a sua cidade fique
melhor do que era ontem. E o seu Oríbio é um desses homens, é um homem
extremamente simples, um homem do povo verdadeiramente. Se nos pedissem que
mostrássemos um homem do povo, poderíamos mostrar com absoluta tranqüilidade o
Sr. Oríbio e estaríamos dando uma demonstração clara do que é um homem do povo.
Simples, o Sr. Oríbio, no dia a dia lá na Restinga, conversando, discutindo,
trocando idéias e nas noites muitas vezes deixando de ficar em casa com sua
família e assistir o seu programa de televisão ou até mesmo de descansar o
corpo, os anos que vão passando e que muitas vezes não sentimos, deixa tudo
isto para ir a uma reunião e lá brigar para que a água seja fornecida sem
interrupções, ir a uma reunião para reclamar que o custo da água não está bom,
tem que ser mais barato para que o povo possa pagar, reclamar que o ônibus deve
trafegar com mais intensidade, com mais freqüência e com mais seriedade nos
horários. Nessas lutas na Restinga, vocês sempre vão encontrar o Sr. Oríbio.
Foi assim que o conheci e foi assim que eu aprendi a admirá-lo. E numa das
tantas reuniões que fazia em meu gabinete, conversando com os meus
colaboradores, buscando homens desta Cidade que expressassem aqueles anônimos
que a história, ingrata, tende a esquecer, para lhes dar uma homenagem, como
disse um dos oradores que me antecedeu, o Sr. Oríbio surgiu de forma
cristalina, e esta Casa por unanimidade aprovou esta distinção.
Eu sei, Seu
Oríbio, que para o Senhor este título não lhe aguça a vaidade, este título não
vai servir para que o senhor ostente mostrando aos outros que é melhor do que
quem não o recebeu. Eu sei que o Senhor não vai fazer isso. Eu sei que este
título, embora talvez o Senhor, com a sua simplicidade, diga que não, este
título representa, verdadeiramente, o reconhecimento não só ao Senhor, porque o
Senhor representa neste momento a luta, representa o reconhecimento àqueles
tantos que pelos cantos desta Cidade, diuturnamente, lutam para torná-la mais
bela e mais feliz. Não foi outra que não esta a nossa idéia ao propor essa
láurea, que esta Casa, como disse, por unanimidade concedeu.
Por isto me
sinto, Sr. Presidente, Ver. Valdir Fraga, Deputado Estadual, muito honrado de
aqui novamente retornar e muito sensibilizado por poder utilizar este microfone
que tantas e tantas vezes usei buscando transmitir aquilo que entendia ser
certo.
Volto hoje a
esta Casa gratificado pela oportunidade de poder novamente falar neste
microfone, que é o microfone do povo, e cumprir com esta obrigação que a minha
consciência seguidamente me cobrava, que é de entregar este título ao Sr.
Oríbio.
Então, quero
encerrar, Sr. Presidente, não sem antes me imiscuir na seara alheia. Vinha vindo
pra cá e não sabia quem seriam os outros homenageados. Ao receber a lista,
deparei-me com mais três pessoas: o Maestro Macedinho, que todos nós conhecemos
desde os tempos em que a banda foi reativada pelo nosso ex-Prefeito Villela,
que vai ser seu companheiro de Legislatura na Assembléia Legislativa do Estado;
o Sr. Aldo Sani, que não me conhece, mas diz a Bíblia que o que uma mão dá a
outra não deve saber, mas, como não sou nem uma mão nem a outra, quero dar aqui
o testemunho do que o Senhor fez. Várias vezes, como dirigente de escoteiros,
levantamos o telefone para o Sr. Aldo Sani nos ajudar nos grandes eventos
internacionais que realizamos no Rio Grande do Sul e ele nunca nos enrolou ou
conversou, sempre nos atendeu. Faço este testemunho porque nunca tinha tido o
prazer de vê-lo pessoalmente, só fazia por telefone. E estas coisas a gente tem
que tornar públicas para que se possa conhecer também outras facetas das tantas
que certamente o Ver. Wilson Santos aqui vai dizer. O outro homenageado é nosso
ilustre José Cláudio Leite Machado. Conhecia de nome e me perguntava o que se
deve dizer para uma pessoa assim, mas ao ver um monte de gente pilchada aqui,
acho que não se diz mais nada, porque você pertence àquela estirpe que, no
dizer de Jayme Caetano Braun, a estirpe dos teatinos que por mais de trezentos
anos foram pastores-sentinelas da pátria verde-amarela, peleando com
castelhanos, gravando com los hermanos
a epopéia do fronteiro, poeta, cantor e guerreiro da América que nascia na
bendita teimosia de continuarem brasileiros. Sr. Oríbio, continuo feliz por
tudo isso. Um abraço para o Senhor. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Sr. Hermes Dutra
para passar às mãos do Homenageado o título honorífico.
(O Sr. Hermes
Dutra procede à entrega do título.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o homenageado
Oríbio Mingota dos Santos.
O SR. ORÍBIO MINGOTA DOS SANTOS: Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, minhas senhoras, meus senhores, eu me sinto
sinceramente sensibilizado de receber esta homenagem, pois para mim é uma
grande homenagem. Eu quero aqui repartir esta homenagem a todos os companheiros
que também trabalharam comigo durante esses trinta anos.
Como já disse,
para mim é uma grande homenagem, sinto-me muito feliz e quero aqui dizer que a
luta comunitária é uma luta muito difícil de ser enfrentada, mas nós nos
sentimos muito realizados. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Os nossos próximos homenageados
serão os Senhores Aldo Sani e José Cláudio Leite, que serão saudados pelo Ver.
Wilson Santos, proponente do título honorífico de Cidadão Emérito e do prêmio
artístico “Lupicínio Rodrigues".
Com a palavra
o Ver. Wilson Santos.
O SR. WILSON SANTOS: Exmo
Sr. Ver. Valdir Fraga, Presidente desta Casa, homenageados, senhoras, senhores,
eu tenho consciência que a outorga da cidadania emérita tem se revelado valioso
instrumento para reconhecer publicamente as qualidades de pessoas que, por seu
trabalho, suas virtudes, pelo trabalho profissional, fazem-se dignas da
admiração e do respeito da coletividade. Por isso, Srs. Vereadores, senhores,
senhoras, eu digo que, preso a essa assertiva, propus ao Parlamento da cidade
de Porto Alegre a outorga do título de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao
símbolo de homem digno, a um grande industrial, que já residiu em Porto Alegre,
mas hoje vive e trabalha no vizinho Município de Guaíba, onde há doze anos
dirige uma das maiores empresas do Rio Grande do Sul. Honraria que foi aprovada
por unanimidade dos Vereadores.
Aldo Sani
nasceu em São Paulo, em 1929, e, naquela capital, se formou em 1954 em
engenharia industrial, pela PUC. Iniciou sua carreira na Cia. Paulista de
Celulose. Em 1970, veio trabalhar na indústria de celulose Borregaard. Denúncias
da imprensa e da opinião pública, devido a problemas ambientais, referentes à
parte hídrica e pelo mau cheiro que exalava na atmosfera, levaram o Governo
gaúcho a fechá-la temporariamente. O Engenheiro Aldo Sani deixa a Borregaard e
vai para a Celulose Nipo Brasileira, uma associação da Cia. Vale do Rio Doce
com a Japan Brasilian Puép.
Retorna ao Rio
Grande do Sul em 1978, como Diretor-Superintendente da nova Riocell, com uma
grande meta: fazer da fábrica um exemplo para o setor nos cuidados ambientais e
fazê-la conviver pacificamente com a comunidade. Empresário eleito líder
setorial Papel e Celulose por seis vezes, em doze anos à frente da Riocell,
implantou a unidade para a fabricação de celulose branqueada, o que não era
feito na época da Borregaard. Hoje, a Riocell é um complexo industrial
invejável, exemplo de comercialização, também com eficiente controle de
qualidade, gerando três mil empregos diretos e mais de vinte mil empregos
indiretos, fazendo com que haja uma comunidade de aproximadamente vinte e cinco
mil pessoas dependendo da empresa. Aldo Sani, em respeito à convivência com a
comunidade, em respeito à dignidade e qualidade de vida do ser humano, combateu
a poluição, fazendo um investimento na ordem de 44 milhões de dólares. As
emissões da fábrica, hoje, estão muito abaixo dos limites estabelecidos pela
Secretaria de Saúde e Meio Ambiente do Estado. Este é um magnífico exemplo de
respeito humano.
Senhores e
senhoras, a nossa sociedade tem que evoluir e tem que evoluir para melhor. E
ela só vai evoluir para melhor se a competição entre os seres humanos se der no
plano das virtudes, pela grande veiculação e propagação dos bons exemplos. Por
isto, nós temos que estimular a outorga dessas honrarias. E esta Casa, na sua
prática, tem mostrado isso. Hoje, mostramos exemplos dignos para a sociedade
porto-alegrense, Oríbio, Macedinho e, neste momento, o industrial Aldo Sani e,
depois, a figura de José Cláudio Leite Machado. E para Aldo Sani diria o
seguinte: se não puder ser um pinheiro no topo da colina, seja um arbusto no
vale, seja um ramo se não puder ser uma árvore; se não puder ser um ramo, seja
então apenas uma relva verde e dê alegria a algum caminho; não podemos ser
todos capitães, temos que ser tripulação também, mas há, aqui, neste mundo, grandes
obras para realizarmos e há outras pequenas; se não pudermos ser almíscar,
vamos ser apenas uma tília, mas temos que ser a mais viva; se não pudermos ser
sol, sejamos uma estrela; se não pudermos ser uma estrada, vamos ser uma senda,
mas vamos por algum caminho, a algum lugar. Não é pelo tamanho da tarefa que
realizamos que teremos êxito ou fracasso, mas pelo amor de Deus. Diz o filósofo
Douglas Malloch: “Seja o melhor no que quer que você seja”. E eu sei que a Dona
Rosa, que o Aldo Júnior, que o Emílio e o Sérgio podem dizer que o Aldo Sani
tem sido o melhor chefe de família para vocês. O segmento econômico sabe que
Aldo Sani tem procurado ser o melhor na gerência e na administração de uma
empresa deste porte. E digo, sem sombra de errar, no momento do recebimento do
título honorífico de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao Sr. Aldo Sani, o Senhor
recebeu este título porque tem lutado e suado para ser o melhor. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Ver. Wilson Santos
para fazer a entrega do título ao Sr. Aldo Sani.
(O Ver. Wilson
Santos procede à entrega do título.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Sr. Aldo
Sani.
O SR. ALDO SANI: O homem precisa reaprender a
olhar a natureza. É possível conviver com o progresso e a produção em larga
escala sem sacrificar a qualidade da vida.
Sr. Presidente
da Câmara Municipal de Porto Alegre, Vereador e Deputado, agora, Valdir Fraga,
Senhor representante do Sr. Prefeito Municipal, demais componentes da Mesa,
Srs. Vereadores, Sr. Ver. Wilson Santos, autoridades aqui presentes, demais
homenageados, minhas senhoras e meus senhores, meus amigos. (Lê.)
“As frases em
destaque são do gaúcho José Lutzenberger, atual Secretário Nacional do Meio
Ambiente e que tem feito de sua vida uma luta permanente para harmonizar as
atividades do homem com a natureza.
Por certo,
esta mesma idéia gerou os motivos determinantes deste encontro, inclusive o
título de Cidadão Emérito, o qual recebo hoje, com surpresa, respeito e,
sobretudo, com muita honra. A surpresa provém da inesperada repercussão que
teve, nesta Casa do Povo de Porto Alegre, o trabalho que desenvolvemos na
Riocell. O respeito decorre do valor que atribuo a esta homenagem. A honra
deriva do sentimento de dignidade inerente às manifestações de cidadania.
A surpresa e o
respeito a que me referi, quero guardá-los comigo, na intimidade das reflexões
sobre meu próprio trabalho. A honra, porém, de receber o título de Cidadão
Emérito de Porto Alegre, devo transferi-la à Riocell e a todos aqueles que nela
trabalham.
Retenho comigo
apenas a alegria de compartilhar do incessante esforço daquela empresa para que
o progresso econômico de sua atividade produtiva possa conviver em harmonia com
toda a coletividade.
Este mérito,
todavia, não cabe apenas a mim. Permitam-me dizer que ele é indissociável das
transformações ocorridas na história da empresa à qual tenho me dedicado com o
melhor da minha experiência profissional e os melhores frutos da minha
capacidade de trabalho.
Essas
transformações tiveram como ponto de partida a conscientização da comunidade
Riocell em relação aos cuidados ambientais. Desde seus acionistas até o mais
humilde funcionário, tratou-se de firmar e afirmar a luta pela mudança da
imagem da empresa a partir de dois pontos essenciais:
- dotar a
fábrica com a tecnologia mais atualizada disponível;
- falar sempre
a verdade e assim transmiti-la, em respeito à coletividade, onde não somos
estranhos e na qual não fomos vilões. Nossas famílias a ela pertencem. Agindo,
pois, com dignidade e com sinceridade, fomos refletindo uma nova imagem, fiel
por seu conteúdo e verdadeira por seus princípios.
Atualmente, os
cuidados ambientais constituem parte importante da cultura da empresa. Cada
empregado, nos diferentes setores, transformou-se em guardião, sempre alerta,
no dia a dia do seu trabalho. Nos extensos hortos florestais ou no intrincado
complexo fabril, cada um de nós está consciente de sua responsabilidade, está
imbuído da importância do esforço individual na tarefa comum, em prol não só da
Riocell, mas, principalmente, da comunidade. Em última análise, em prol da
vida. Isto muito me honra, porque, como se diz em planejamento estratégico,
transformamos um ponto fraco em uma área de excelência.
Inicialmente,
trabalhei na Riocell no auge de suas vicissitudes, quando seu nome – Borregaard
– era símbolo de poluição, despertando a consciência ecológica de sul a norte
em nosso País. Retornei em 1978, como Diretor-Superintendente, quando se
iniciaram as obras da expansão da fábrica e a incorporação de modernos
equipamentos para o processo de branqueamento de celulose. Na área ambiental,
foram investidos recursos jamais aplicados anteriormente em qualquer indústria
brasileira e mesmo em países desenvolvidos.
Hoje, a Riocell
é uma das mais modernas fábricas de celulose do mundo, das mais limpas. É
também uma das mais belas. Sua beleza, porém, não se limita às grandes
construções nem aos jardins que as circundam. Refiro-me à beleza da consciência
ambientalista que dali se irradia.
Em paralelo a
essa política conservacionista, a companhia vem prestigiando também a
divulgação dos costumes e das tradições do Rio Grande do Sul. Suas edições
institucionais já conquistaram lugar de destaque nos meios culturais do Estado,
do País e do exterior. A música, a pintura, o teatro, a dança e as artes em
geral têm recebido o apoio da empresa.
Estamos vendo,
pois, que nada realizei de extraordinário. O trabalho foi sempre de equipe.
Assim, à
frente da diretoria há mais de doze anos, tenho procurado cumprir com o dever
em prol dos objetivos econômicos e sociais da empresa, bem como no interesse da
comunidade. Por certo, ao propor a outorga deste título, o ilustre Ver. Wilson
Santos compreendeu o significado desse trabalho e quis convertê-lo em exemplo e
utilizá-lo como estímulo às atividades empresariais e à livre iniciativa.
Agradeço-lhe o gesto e fico lisonjeado em poder servir de instrumento a este
elevado propósito, que recebeu apoio da egrégia Câmara Municipal de Porto
Alegre. Por seu conteúdo pessoal, desejo transferir parte significativa desta
homenagem à minha família, no seio da qual tenho encontrado sempre as forças
necessárias para o trabalho. Sou grato, também, aos amigos que comparecem a
este ato solene.
Para concluir,
posso repetir o que disse em 1985 ao agradecer título análogo concedido pelo
Município de Guaíba: “Na verdade, somos todos peregrinos na busca da realização
de nossas aspirações de vida e de profissão. Nem sempre temos a chance de fixar
raízes, mas é inevitável que em nossos corações e em nossa memória fiquem
lembranças indeléveis, ora dos lugares pelos quais passamos, ora das pessoas
com quem convivemos. Posso até dizer-lhes que aquele que tiver amealhado
tesouros continuará pobre se em sua memória não houver a riqueza das boas
lembranças dos lugares por onde passou e se em seu coração não tiver a saudade
ou o afeto das pessoas com que conviveu”. Muito obrigado a todos. (Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver.
Wilson Santos que neste momento presta sua homenagem, em nome da Casa, com o
prêmio artístico “Lupicínio Rodrigues” ao Sr. José Cláudio Leite Machado.
O SR. WILSON SANTOS: Sr.
Presidente e demais integrantes da Mesa a quem anteriormente já havia me
referido. Este momento, como os outros, se reveste de um significado muito
especial. Eu vim de bota, bombacha, de lenço, minha prenda me acompanha também
com a vestimenta gaúcha porque entendemos que pilchados nós estaríamos
homenageando os outros homenageados, em especial uma figura que tem um destaque
todo especial no cenário gaúcho. Eu tenho um amor tamanho pela cidade de Porto
Alegre onde nasci e me criei e por esse torrão gaúcho.
Inicialmente,
fiquei dando uma repassada, José Cláudio, e me lembrei do saudoso Lauro Rodrigues
e, na minha opinião, um dos maiores erros cometidos pelos Governos de exceção
que tivemos foi terem cassado e tirado de circulação o seu livro “Senzala
Branca”. Ele também, como muitos gaúchos, é hoje tema para homenagear José
Cláudio Machado, que é um tema gaúcho, ele falava no vasto pampa “bandeira
tricolor, tu que amortalhas um passado nobre, tu que servistes de laurel de
glória, deserda o filho que te for traidor e descobre que te concede o apogeu
da História”, o Rio Grande tem que estar no apogeu da História, este da
“Procissão de Amores”. Em “Aleluia”, ele diz: “velho pampa lendário de outras
eras, onde se erguem lúgubres taperas, tripudiando quais flâmulas de luto:
nessas tardes de junho, ao sol poente, parece-me que sinto o que tu sentes quando
o silêncio do teu canto escuto”. Ele citava a bravura do Rio Grande e se
preocupava com o Brasil, uma pátria de “vinte e tantas zonas, que tem no seu
ventre o Amazonas e agoniza de fome nas cidades” e “se obriga e pedir pão sob
um dossel de ouro”.
Eu lembrei
Ciro Gavião, que homenageou a nossa Brigada Militar, que se confunde com a
história do Rio Grande do Sul, quando ele diz que "quando abro o livro da
história desta Brigada imponente que sempre esteve na frente quando periga a
Nação, que é forja da tradição e orgulho da nossa gente. Foi guapa em 1993, de
1930 já nem se fala, brigou de manto e de pala, e na história não esqueci,
banhou de sangue o guri, na mais tremenda peleia, quando o velho se maneia no
velho Itamarati”. Ciro Gavião falava das coisas do Rio Grande do Sul.
Lembrei de
Aparício Silva Rilo, que disse que “na invernada do meu peito, há mágoas de
todo o pelo, sendo a saudade um sinuelo destas mágoas que eu falei. Dizem que
um homem não chora, mas um pranto não tem hora, e o coração não tem lei. Tudo
por causa da China que se chamava Bonita, o pecado de Bonita dava gosto de
faceira”. E ele continuava até mostrar o coração de mentira que a faca dele
havia gravado numa árvore.
O poeta, como Jayme Caetano Braun, que quando fala do peão, ele fala "Valente galo de briga, guasca vestido de penas! Quando arrastas as chilenas, no tambor do rinhedeiro, no teu ímpeto guerreiro vejo um gaúcho avançando, ensangüentado, peleando, no calor do entrevero. Pois assim como tu lutas, frente a frente, peito nu, lutou também o chiru na conquista deste chão...”.
Ele fala assim, quando fala do gaúcho, mas quando fala da prenda, ele diz: “A maior das gauchadas que há na Sagrada Escritura, falo como criatura, mas penso que não me engano! É aquela em que o Soberano, na sua pressa divina, resolveu fazer a china da costela do paisano! Bendita china gaúcha, que és a rainha do pampa e tens na divina estampa, um quê de nobre e altiva. És perfume, és lenitivo que nos encanta e suaviza e num minuto escraviza o índio mais primitivo”. E assim vai Jayme Caetano Braun.
Se formos falar das coisas de gaúcho, vamos até falar das beiradas de balcão, onde ele fala da cachaça: "rude bebida campeira, sumo da cana esmagada, China mala, desgraçada, que meus penares encharca, jamais se apagam as marcas do teu fascínio maldito, que faz inspirar um proscrito, o mais bagual dos monarcas, água benta consagrada no altar das pulperias”. E por aí ele vai.
Quando fala do “borracho”, ele descobre o “borracho” ajoelhado e já não é mais Jayme Caetano Braun, são outros poetas, ele diz: “Pobre borracho... ajoelhado no oratório do bolicho! Teu presente é como o lixo que sobrou do teu passado. Tens o futuro castrado de esperanças e de ilusões. Te incorporaste aos balcões das pulperias do pampa... Se vives a meia guampa, encharcado de bebida, é pra esquecer a caída desta outra bebedeira que tomas, a guampa inteira, no copo amargo da vida”. Mas este poeta, ele diz que todos nós somos borrachos, todos que estamos aqui somos borrachos, somos ébrios, a cachaça que é diferente, porque ele conhece muita gente que roda por este mundo, vivendo dramas profundos, embriagados de dor, outros, embriagados de amor, dão tudo, dão corpo e alma, vivendo a íntima calma que só nos traz a bondade.
Tem outro poeta que diz que entre as grandezas do mundo há jóias de muito valor. José Cláudio diz que entre todas as potências que vieram lá do nosso Criador, a maior obra de Deus foi ter criado o amor.
Então pergunto, o povo de Porto Alegre, os teus amigos, José Cláudio, com esse amor recebem este índio taura, mas o taura cuja astúcia significa finura, sensibilidade, esse taura que é exemplo dos maulas para que os maulas queiram também ser tauras e assim nós podemos competir, como disse ao Aldo Sani, pelas virtudes. Tu vens aqui, José Cláudio Machado, pelos teus méritos, homem que nasceu em 1948 na cidade de Tapes, cujo Prefeito está aqui a te aplaudir, a te homenagear. Guaíba hoje está em alto astral, porque Aldo Sani mora em Guaíba, José Cláudio, mora em Guaíba.
Compositor, cantor, José Cláudio, executante de vários instrumentos, bumbo legüero, gaita-ponto, guitarra, violão e acordeão. Grupos a que pertenceu: “Os Tapes”, “Os Teatinos”, “Os Serranos” e outros.
Quase todos os festivais de música nativista do Rio Grande do Sul tiveram a sua presença: vencedor da 11ª Califórnia da Canção de Uruguaiana, com “Pedro Guará”; melhor intérprete da 11ª Reculuta de Guaíba, com a música que fala dos cavalos, “Pelos”; melhor intérprete em 1987, em Caçapava; venceu a 9ª Tertúlia de Santa Maria, em 1988, com a música “Como cantar um flete”.
O teu currículo, Zé Cláudio, eu peguei antes, eu sei que depois já fizestes mais estrepolias e estragos, no bom sentido, por aí, porque já andastes ganhando muitos outros prêmios, mas quando eu ingressei nesta Casa com o currículo vim até aqui, mas acho que já é o bastante para que esta platéia conheça alguns matizes que marcam o caráter, a formação, a personalidade deste grande tradicionalista.
Sabe o Zé Cláudio como ninguém tudo o que acontece no campo. Ama profundamente o cavalo e é o cavalo a freqüente inspiração do Zé Cláudio Machado. É um campeiro de traços rudes, posição definida, defende com lucidez e energia a verdadeira tradição e sabe fazer uma coisa como ninguém e seus amigos que estão aqui sabem: ele tem um coração enorme e sabe como ninguém fazer amigos. Honra o chão que nós vivemos e é o orgulho do nosso povo. Por isto, José Cláudio Machado, o prêmio “Lupicínio Rodrigues”, que foi instituído pela Resolução nº 810, de 24 de outubro de 1984, nesta Casa, para destacar alguém da tua índole, do teu molde, do teu exemplo e eu quero aqui, para encaminhar as palavras derradeiras, parafrasear e adaptar Plínio Machado:
“Gaúcho, de Quaraí a Torres, de Vicente Dutra ao Chuí, se fraquejar em algum momento, se não estiver sentindo o teu acendrado e apegado amor pelo teu torrão, faz como o índio, filho desta terra: encosta o ouvido ao chão, vais ouvir um rumor; tens que ouvir um rumor como um tropel de cascos, como o pulsar de um coração. Se não ouvires este rumor, não és mais digno de pertencer a este chão”.
O verdadeiro amor, o acendrado amor, o apego por este chão José Cláudio tem, como índio, filho desta terra, ele ouve o rumor e tem sensibilidade, alma e coração; ele extrai do chão do Rio Grande, transforma em música, como compositor, e interpreta como ninguém. Tanto que estão aí, atirados em seus pés, todos os títulos que recebeu. E hoje, José Cláudio Machado, a Câmara de Porto Alegre se curva diante da tua grandiosidade, te entrega, merecidamente, o prêmio artístico “Lupicínio Rodrigues”. Muito obrigado. (Palmas.)
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Ver. Wilson Santos para que proceda à entrega do prêmio artístico "Lupicínio Rodrigues" ao Senhor José Cláudio Leite Machado.
(O Ver. Wilson Santos procede à entrega do prêmio.)
O SR. PRESIDENTE: Solicitamos que o Ver. Wilson Santos proceda à entrega do título honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Aldo Sani.
(O Ver. Wilson Santos procede à entrega do título.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o nosso homenageado José Cláudio Leite Machado.
O SR. WILSON SANTOS: Sr. Presidente, quero, antes do José Cláudio tomar a palavra, fazer um registro, dizendo que o José Cláudio Leite Machado é um gaúcho autêntico, prova disso é que ele veio a cavalo. O seu cavalo está amarrado, aqui, ao lado do prédio da Câmara.
O SR. JOSÉ CLÁUDIO LEITE MACHADO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, minhas senhoras, meus senhores, é um momento difícil na minha vida, porque nunca me expressei diante de um microfone, a não ser em entrevistas e não numa ocasião especial como esta. Honestamente, eu, jamais, em momento algum da minha vida pensei que receberia um prêmio de tanta importância como este que recebo hoje. Quero que vocês saibam que dentro do meu coração alguma coisa pulsa muito forte, pois a emoção é demais, quase que incontrolável. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. WILSON SANTOS: O Município de Tapes, através do seu Prefeito, Luís Carlos Garcez, entregará ao José Cláudio Leite Machado a seguinte placa. (Lê a placa.) (Palmas.)
(O Sr. Luís Carlos Garcez procede à entrega da placa.) (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Agradecemos a presença de todos. Foi um prazer muito grande recebê-los aqui nesta Casa, a Casa do Povo que, aos poucos, se vai construindo. A oportunidade é muito grata para nós de presidirmos esta Sessão. Agradecemos a presença de todos, aos componentes da Mesa, e esperamos que voltem sempre. Estão levantados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 18h46min.)
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